Começo esse relato com a primeira de uma série de constatações: Maratona sem Picanha é igual churrasco de alcatra...é bom mais não tem graça. Paulo Picanha esteve presente nas minhas duas maratonas anteriores, e em ambas fizemos uma bela disputa. Em PoA(2010), ele perdeu. No RJ(2010), ele venceu por pouco, pela caridade que fiz com Wu, optanto por não humilhá-lo já no nosso primeiro encontro na bela distância. Picanha, fico feliz ao vê-lo de volta às corridas, na certeza que em breve teremos grandes disputas. Enquanto isso não ocorre, vou atrás do seu record no
ranking do Júlio, pois não posso dar mole de deixar você na minha frente ali. 3:52:27 vai ser osso, mas eu vou te buscar.
A segunda, maratona são muitas disputas em uma. A principal, mente x corpo. E dessa disputa eu sigo com a sensacional definição de Miguel Delgado: "Maratonas se corre com a cabeça, treinamos o corpo para ele não atrapalhar muito". Além dessa disputa, a diversão de percorrer os 42km estão nas disputas com os amigos. E nesse quesito, a maratona do Rio 2011 foi muito proveitosa. Senão vejamos:
Dei o troco no camarada Namiuti, que na versão 2010 me esculachou. Ele também esteve presente em todas minhas participações em maratonas, e desempatei o placar para 2x1. Seguimos juntos por quase todo trecho monótono do recreio a barra, e ali ele largou o pelotão. Curioso que eu já não o via no horizonte, e já tinha aceitado a derrota, mas assim como o futebol, a maratona é uma caixinha de surpresas. Por um capricho 'natural', ultrapasseio-o sem me dar conta, e só soube da vitória lendo seu relato. Valeu por tudo camarada, e que venha nova revanche. Não amarele para Búzios.
Miguel Delgado também amargou uma derrota, e empatamos o placar no RJ. Ele está numa momentânea fase não competitiva, mas não está aguentando tanta gozação dos companheiros. Rumores existem que ele volta com tudo em breve, prometendo acabar com a euforia de Wu.
Graças ao Marcos (bonitão), foi possível vencer Meire. Só assim, com caridade e despreendimento da querida amiga de BH, para vencê-la. Meire, você arrebentou ajudando o Marcos em sua estréia, mas terá que amargar para a eternidade a única derrota para mim na sua carreira. Já me sinto realizado.
Também cometi a façanha (primeira e única) de vencer Ênio Japa, essa ficará para a história e para os anais do pedestrianismo. E o xará, grande amigo e companheiro de aventuras, amargou a primeira derrota. Com esse a disputa promete grandes emoções no futuro.
Mas o mundo não é só alegrias e festas...perdi novamente para Guilherme Maio, que mesmo não gostando, fez uma grande prova. Só um capricho do universo para vencê-lo novamente. E Wu, merece um parágrafo a parte, mas vamos à prova.
Como no ano passado, os prolegômenos ficam a cargo do excelente
relato do Namiuti (ou Ney, como preferir). Já deixo aqui registrado que para termos sucesso nessa maratona, teremos que abrir mão do "showdízio" da véspera, e consequentemente, do rondeli de prestígio.
Na largada sai na companhia do xará, mas quando, assim que passamos no pórtico, ele reduziu para bater na mão do Marílson, eu já sabia que ele iria perder. Era muita energia para sua carcaça. Por isso, sabiamente, optei por não saudar o grande campeão. Fizemos a volta de apresentação (à Ivo Cantor) e avistei um mini pelotão Baleias, formado por Miguel, Marinês e Ênio. Cheguei fazendo festa no pelote, mas, como diz a Verônica, o pace do pelotão estava muito "jogo de damas" (quando a coisa está monótona, como o jogo de tabuleiro), cheguei com pace mais forte e optei por mantê-lo e perder a festa da companhia do gordo no infinito retão do recreio à barra. Nesse ponto o xará já sentiu o baque da palminha no Marílson e ficou para trás.
Bati papo com dois corredores de SP, um estreiante na distância, e se deslumbrando com o percurso e o calor ainda na reserva. Não quis desanimá-lo logo no início, mas disse que o que vinha pela frente seria muito melhor, tanto em beleza quanto em calor. Ficou para trás. E o segundo paulista, já me perguntava onde seria bom pegar ônibus para chegar ao Flamengo, pois vinha da maratona de SP, e não conseguiria completar. Disse que o melhor seria no Leblon (sacanagem, só para ele ter que subir a Niemeyer). E que seria em torno do km 29. Soltou um palavrão. Nesse ponto o Namiuti encosta, dizendo que eu estava com ritmo muito inconstante. Seguimos juntos até quase à barra. Ali ele abriu cerca de 100m na subida do primeiro elevado e não mais o vi até a chegada. Mais uma derrota, pensei.
No primeiro túnel, a alegria de ver Meire e Marcos, correndo juntos...ah o amor! Na saída do túnel, a alegria de passar por Hideaki caminhando (ainda ganharei dele um dia, com sua técnica matadora após o km 33), e seguir com ele até a entrada de São Conrado, passando antes pelo espetáculo do túnel da light. Se no ano passado foi emocionante o jogo de luz, neste ano eles passaram dos limites. Só quem passou ali é capaz de saber. O que eles nos reservam para o próximo ano? Ali encontrei o grande treinador Branca, esperando seus alunos. Chamei-o, ganhei um abraço, tirou uma foto, perguntou se precisava de algo, e me desejou uma excelente chegada. Pessoas como ele fazem a diferença! Vi-o ajudando tanta gente no percurso, anônimos, que não são seus alunos, mas isso não importa para ele. Mandei por ele lembranças à Mayumi. Consiga a foto para mim tá Mayumi?
Niemeyer a frente, e estava preparado para ela, que foi o começo da derrota no ano passado. Reduzi o passo e subi sem caminhar, passando muitos caminhantes, dentre os ilustres, Eduardo Bustamante, que por ter esquecido o chip no carro, não terá a honra de ter perdido de mim, pois os auditores não conseguirão evidenciar sua derrota.
Chegada ao Leblon e depois Ipanema, e esse trecho eu gosto. O povo estava animado (coisa rara no RJ) e a campanha da olympikus levou o povo pra rua, com dizeres muito legais. Foi uma grande sacada. Preciso ver Copacabana como a princesinha do mar. Ali foi sempre difícil, e dessa vez não foi diferente. A começar pelo isotônico, que me embrulhou o estômago e por pouco não me faz vomitar. Tive que dar a primeira caminhada por isso, e foi o precedente para novas caminhadas nesse trecho que não entendo sua mística de me fazer andar. Tentei de tudo para me distrair e passar logo por ele, mas nada adiantava, e para piorar, o number two dava claro sinais que estava na área, algo comparado a cabeça da tartaruga a sair do casco, manja?
Com uma trégua momentânea do two, saquei o mp3 e me embalei na lembrança dos amigos. 'I will survive' foi a primeira da lista aleatória, e era a mensagem que eu precisava, eu iria sobreviver, apesar de tudo! Marli, valeu mais uma vez. Ainda em Copa, segue 'School', e eu queria o pace do Regis junto com a música, mas como seu início é bem "jogo de damas", aproveitei para caminhar, e na hora que ela animou, fui firme, até encontrar o Pinguim quebradinho e caminhando também. Gritei, ele bateu foto, e ao ver o manto coral, disse que Wu estava caminhando logo ali na frente. Foi uma injeção em ambos, ele para fotografar o momento da ultrapasagem, e eu para repetir a dose de 2010. Isso já era quase na virada para a Princesa Izabel e fim da orla. Ali entrou 'Changes', e eu sabia que o Guilherme já deveria ter chegado. Amarguei a derrota. Na saída do túnel, 'burning heart'. Silvio acertou em cheio, não apenas o coração. mas tudo estava fervendo. Em seguida, no curvão de botafogo, entra 'dancing with myself', não dancei, mas caminhei um bocado com a Jacke na lembrança e sorri para todos, como ela. No ponto onde encontrei Wu caminhando no ano passado entra 'Wherever I May Roam', xinguei Felipe e todas as gerações! Nada de Wu aparecer! Eu não tinha condições para o pace dessa música...mas Felipe, você não tem culpa, eu gosto é disso mesmo! Já dava para ver o pórtico, e dessa vez já sabia que a Júlia não estaria ali para a tradicional foto da chegada. Passo na placa do 42k, vibro como nunca, para abrir o sorriso e percorrer os 195m mais emocionantes da história. É muito bom tudo isso, e cruzo a meta com a música do Gilmar, 'just the way you are'.
A última constatação, deixo para o final, pois é quebra de paradigma na preparação para maratona. Meus maiores treinos longos foram apenas 2 de 20km! Isso é
Ironguides. Terminei bem, com 4:h40', bem abaixo do ano passado. 2012 promete ser A maratona do RJ para mim, preciso vencer Copacabana, e a preparação mental para tal já começou.
Na chegada, revi amigos, ouvi lindas histórias e fui embora feliz para casa, para abraçar a família.
Até a próxima.
RJ, 17 de julho de 2011