A lagarta vira borboleta e se liberta da crisálida do corpo.
Deixo aqui um registro em homenagem a minha avó, falecida há poucos dias. Exemplo de luta, que muitos valores nos deixou, dentre os quais o de jamais desistir frente as adversidades da vida, bem como a resignação diante do sofrimento.
Relendo o poema Mas, compartilho com os amigos que passam também por contratempos, na certeza de que tudo passa na vida.
Mas...
E eu que achei que a lua não brilhasse
sobre os mortos no campo da guerrilha,
sobre a relva que encobre a armadilha
ou sobre o esconderijo da quadrilha,
mas brilha.
E achei que nenhum pássaro cantassese
um lavrador não mais colhe o que planta,
se uma família vai dormir sem janta
com um soluço preso na garganta,
mas canta.
Também pensei que a chuva não regasse
a folha cujo leite queima e cega,
a carnívora flor que o cego inseto pega
ou o espinho oculto na macega,
mas rega.
Pensei também que o orvalho não beijasse
a venenosa cobra que rasteja
no silêncio da noite sertaneja
sobre a ruína de esquecida igreja,
mas beija.
Imaginei que a água não lavasse
o chicote que em sangue se deprava
quando, de forma monstruosa e brava,
abre trilhas de dor na pele escrava,
mas lava.
Apostei que nenhuma borboleta
-por ser um vivo exemplo de esperança-
dançaria contente, leve e mansa
sobre o túmulo em flor de uma criança,
mas dança.
Por isso achei que eu não mais fizesse
poema algum após tanto embaraço,
tanta decepção, tanto cansaço
e tanta espera, em vão, por teu abraço,
mas faço.
Antonio Roberto Fernandes
Solidarizo-me com o prezado amigo em função da perda recente. Reeba minhas condolências!
ResponderExcluirGrande amigo. Abrace toda a sua família. Como você mesmo disse a perda de um ente querido que muito nos deixou em exemplos significa apenas a continuidade necessária da vida onde quem admiramos sobe e passa a pairar no firmamento brilhando ainda mais. Morrer não é bom, sei, mas pode ser, dentre as máximas inoxeráveis da vida que não nos acostumamos nunca, uma passagem tranquila. Miguel Delgado.
ResponderExcluirOi Ricardo, receba também as minhas condolências.
ResponderExcluirBjos,
Dani
Ricardo
ResponderExcluirlamento muito sua perda, bonita homenagem.
O poema não é do mesmo autor que os "pratos", os tais que em boa hora me fizeste chegar e que tanto me influenciaram pela positiva?
Abraço
Sinto muito pela perda, amigo Hoffmann. Passei por isso recentemente também. Fica o carinho, ficam eternamente os bons momentos vividos juntos, os exemplos, os ensinamentos, certamente muitos, entre os quais os que você citou.
ResponderExcluirUm abraço.
Fábio
Hoffmann,
ResponderExcluirperder alguém tão próximo assim é difícil mesmo. Espero que vc tenha tido a oportunidade de estar por perto para agradecer pelos bons momentos.
Meus sentimentos a vc e à família. Que a borboleta continue inspirando, mesmo sem estar voando ao seu lado.
Forte abraço,
Shigueo
Meus sentimentos a vc e a sua familia.
ResponderExcluirForça amigo! As lembranças ficaram para sempre em seu coração com certeza!
Amigo Ricardo
ResponderExcluirSó agora fui confrontado com esta triste notícia e, embora tardio, não quero deixar de lhe enviar um abraço solidário.
E quanto ao poema...bem, é simplesmente genial. Grande poeta é este António Roberto Fernandes, que o Ricardo nos deu a conhecer com os "Pratos de Vovó". Um grande "observador" da vida.
Forte Abraço.
FA